Depoimento

Peão Brasil e Parentinho

(Foi na hora derradeira
Quando escutei a porteira
Na peroba do batente
Tremi a luz do caminheiro
Sabendo que no terreiro
Estava chegando gente

O Barão latiu nervoso
Mandei ficar em repouso
Bicho bravo se comporta!
Não veio ninguém à lembrança
Quando ouvi uma batida mansa
Lá na madeira da porta

Falei em voz alta, tô indo
E a porta já fui abrindo
Erguendo o lume de lado
Clareei dois olhos brilhantes
E contemplei num instante
Um rosto muito magoado

Mandei que o homem entrasse
E no banco se sentasse
De um cafezinho falei
Respondeu, não se deprime
Só vim te falar de um crime
Que eu não devia e paguei)

Há tempos fui encarcerado
O senhor deve se lembrar
Porque o doutor delegado
O senhor mesmo foi chamar

Ouviram toda a minha história
Decidiram que a culpa era minha
Me jogaram no fundo da escória
Mas digo que culpa eu não tinha

A sorte não é caça feita
Existe a questão da hora
Às vezes quando a gente chega
O outro já foi embora

Assim foi que quando eu cheguei
Entreguei-me todo na paixão
Descobri que a Tereza que amei
Não era a dona do seu coração

Nem é uma questão de honra
E a honra não é nada, senhor
O que pode doer uma desonra
Perto do que dói um amor

Que culpa tem um coração
Que chora por uma mulher
A arma que estava na mão
Não era uma arma qualquer

De fato, seu moço, eu matei
A verdade não vou corromper
Mas antes pra ela eu falei
Não sei qual dos dois vai morrer

E morri na morte de Tereza
Fui sepultado no xadrez
Seu moço, aprenda essa certeza
Quem mata morre duas vezes

Tracker

All lyrics are property and copyright of their owners. All lyrics provided for educational purposes only.