Saci jogou capoeira
Toda fenda se abriu
Toda lenda se cumpriu
Toda fada era roqueira
Todo mal se disse zen
Quando a nau dos loucos chegou na terra de ninguém
Vi sabão virando pedra
Sanfona de uma só nota
Peixe devorou gaivota
Cachoeira subiu queda
Vi tudo que o nada tem
Quando a nau dos loucos chegou na terra de ninguém
Cacimba de gargalhada
Raposa parindo onça
Beleza de geringonça
Gemendo toda talhada
Ateu que falou amém
Quando a nau dos loucos chegou na terra de ninguém
A jia comeu a cobra
Mangaba deu na jaqueira
Margarida na roseira
Jacaré ficou com a sobra
Do vento chamou-se alguém
Quando a nau dos loucos chegou na terra de ninguém
Da farinha saiu cana
Da garapa saiu trigo
Do desterro veio o abrigo
Colheram mel da carraspana
Da fumaça saiu o trem
Quando a nau dos loucos chegou na terra de ninguém
Vi siri nadar pra frente
Vi baleia andar na pista
Vi sem-terra e ruralista
Se abraçarem bem contentes
Vi banqueiro sem vintém
Quando a nau dos loucos chegou na terra de ninguém
Da nuvem choveu cataia
A noite acendeu no ato
Esperto mesmo é o gato
Que se enrabichou na saia
E engordou sem mais porém
Quando a nau dos loucos chegou na terra de ninguém