Terrários

Madame Javali

Você foi a primeira coisa que eu cuidei e que ainda não morreu
Pois que os meus terrários eram todos os mais devastados do birô
Na mostra anual de ciências
Os outros mini-deuses diziam
Você é o pior mini-Deus
O pior mini-Deus
O pior mini-Deus desse ginásio
Porque um terrário
É ter a experiência de administrar uma criação
Sendo o seu senhor absoluto
E há os que fracassam

Deixe-me explicar
Um terrário é um aquário com camadas
De minério e representantes de outros reinos
Encerrados por um plástico no topo
Para fazer um papel de atmosfera
Para além disso
Há um Deus por fora
No caso do terrário: Eu

E depois do último dia
Da experiência dessa criação
Não restando mais nenhuma necessidade de interação possível
Com o aquário fechado no topo
Todos
O abandonam

É essa a moral dos terrários
Ter um senhor e ter sorte
E os meus morriam amarelos
Ou a minha mãe furava o plástico no topo
Com uma tesoura por desconfiança
Para devolver aquele mini-mundo aos cuidados do Deus normal
Mas não havia retorno

E assim também ocorria
Com os meus ex animais de estimação
Eu nunca pude conter uma tragédia
Certo dia precisei fazer uma viagem
E o meu cachorro aguentou firme a minha volta
Para poder morrer com a cabeça na palma da minha mão
A minha avó materna sugeriu
A sua mão é ruim para qualquer reino
E desse modo um a um
Dos catorze animais que guardei sob a minha revelia
Foram se amontoando no reino dos céus
E na terra foi sempre isso
De um animal
Para cobrir a falta de um outro

Você foi a primeira coisa que eu cuidei
E que ainda não faltou
Me parece que só o que eu não cuido
Se levanta e sobrevive ao meu redor
E as vezes nem isso
Nem isso

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