Sei, foi tudo mais intenso do que sonhei
E só Deus sabe bem o que eu passei
Pois não é fácil ser o que o mundo quer
Com berço pobre, negra, mãe e mulher!
Onde a rotina pega, mata e come
Sobreviventes do Planeta Fome
E moça tão bonita de favela
Encanta o Brasil em aquarela
A voz que rasga o peito
O preconceito, a opressão
Alcança o infinito
Em infinita vocação
Estrela de Padre Miguel
Trêmula carne escura
Que lambe a ferida
Sociedade impura
Verdade da vida
Sangra quem olha no olho
Lama da hipocrisia
Chama, eu sou o tom da minoria
Sim, fui macerada, massacrada por amar
E solitária, solitária na indignação
Cantei mais forte pra essa gente se calar
Reconsagrada, inquestionável redenção
Bruxa, deusa fêmea, visceral
E das maiores que o mundo já ouviu
Sou muito mais do que a força da garganta
Que emociona, dilacera, acalanta
E se agiganta a desnudar esse Brasil
Que é tão gigante no olhar da Mocidade
E tão pequeno, tão voraz, servil
Sou Elza do povo, paixão que não cala
Sou Independente, meu lugar de fala
O canto do Uirapuru, olhar da verdade
Salve a Mocidade, Salve a Mocidade!