Cidades e Lendas

Zé Ramalho

Entre torres e favelas vejo a Lua flutuar
Vejo o mar bater nas pedras
Da cidade onde chorei por você
Foi-se a noite sertaneja que sonhei no estrangeiro
Estilhaços de recordação onde eu nunca voltarei

A cidade é uma serpente
Se não falha o meu repente eu vou só

Toda cidade é uma lenda, tendas de ferro e cristal
Ruas de luz e de penas, cenas de fogo e jornal

Vai batendo a velha noite no subúrbio da tristeza
E a madrugada sai num trem azul do céu
Abrigando a luz da ilusão

São olhares sem janela derramados na sarjeta
Passarada, negra solidão, traficando a última visão
As cidades são espelhos, tantos olhos, tantos olhos tão sós

Toda cidade é uma lenda, tendas de ferro e cristal
Ruas de luz e de penas, cenas de fogo e jornal

Nas esquinas do deserto, as meninas são sereias
Nas migalhas da televisão eu procuro por você
São Atlântidas concretas baseadas na pobreza
Babilônias da desconstrução sob a lama dos meus pés
As cidades são cometas, vão embora porque somos tão sós

Toda cidade é uma lenda, tendas de ferro e cristal
Ruas de luz e de penas, cenas de fogo e jornal
Toda cidade é uma lenda, tendas de ferro e cristal
Ruas de luz e de penas, cenas de fogo e jornal

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