Último Sonho Xirú

Wilson Paim

Já guardei meus aperos, não mais sinto
A força do braço tentando pealar um novo amanhecer
A ferrugem no freio
Me aparta do sonho guri
Cada vez mais e mais

Já não sou mais parceiro dos convites pra dias baguais
De lida e marcação
Teimosia de velho
Foi riscar de espora meu ruano
Pra esconder dos netos que meu dia se chega

Mais um dia se finda, a vida foi mais curta
E a tristeza que sorvo se faz mais comprida
Se minha velha me bota a chaleira no fogo
Já pedi pros meus filhos mais velhos
Reparem os bichos, que eu já não posso mais

Já não tranço meus laços, nem bordo os arreios
Guardo um resto de luz, que me sobra nas vistas
Pra bombear no horizonte, o Sol que vai embora
Roubando outro dia

A noite o sonho, encilho o baio
Me carrega de volta aos rodeios
Me põem no lombo dos aporreados
E amadrinha o meu desespero

Danço milongas com a madrugada
Morena saudade baguala
Reponto tropas entre em peleia
Aposto a vida em qualquer carreirada
Mesmo que a morte emparelhe na raia
Me convidando a dobrar a parada

Mas um dia se

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