Êa
Nas entranhas do tempo
Há um fragmento
Que a terra lançou
De uma sertania
Que um poço surgia
E esse chão batizou
Onde brotou a vida
Que também era devolvida
Ao Nosso Senhor, êa
Diz a boca benzida
De couro vestida
E a madeira talhou
Lampião se escondia
E abraçando a sina
Aqui se deitou
Os vaqueiros corriam
Rendeiras, a Guia
O rio sofredor
Lavadeiras na lida
A rede desliza com o pescador
O Baixo São Francisco
Eu conto, são quatro caminhos
Que ele desaguou, êa
De janeiro a janeiro
Do azul ao vermelho
Aos cordéis de verão
Acordam os pifeiros
E os cavaleiros
Nossa tradição
Xaxado, teatro
Artesãs com dedos rachados
Na lapidação, êa
Já não é mais segredo
Na rua eu vejo
A nova geração
Por que ela não rima
Tecnologia com inspiração?
Pra passar adiante
A nossa cultura diamante
Pra os que inda virão, êa
Mas, pra minha alegria
A magia aquece o meu coração
Cortejos na avenida
Moças coloridas
Numa agitação
E a criança traquina
Mainha, me dê uma nica
Eu quero um gibão, êa
É de seco e sereno
Dourado-barrento
O sertão de onde sou
A cruz da romaria
Curai a ferida
Que inda não fechou
São tantas na vida
Oh Imaculada Maria!
Minha Conceição, êa
Meu chapéu está velho
Mas inda me serve
Pra ter dimensão
Entre lutas, mistérios
Pronomes modernos
Eu faço menção
Como fez Conselheiro
Que um dia aqui veio
Na estrada de chão
Vamos deixar legado
No tempo e espaço
Seguindo a missão
Poço Redondo é fonte
Profundo até no seu nome
Está em nossas mãos, êa
Antes da minha partida
Ao Poço de Cima
Que o chão começou
Deixo aqui meu recado
E com os pés descalços
Eu vou por aí
Dançar coco e catira
Reisados e outras folias
Na imensidão, êa