Invernada do Coração
Luiz Fernando e João Pinheiro
Eu vi poeira de boiada levantando
Quando cheguei sozinho lá no sertão
Aquela cena fez lembrar o meu passado
Eu confesso que chorei de emoção
Ouvi o som de um berrante bem manhoso
E a boiada atendendo ao peão
Que aos poucos foi parando na pousada
E os peões se acomodando pelo chão
Ê tempo saudoso
Porque também eu já fui grande peão
As boiadas que toquei lá no passado
Tão na invernada dentro do meu coração
Fiquei de longe observando a peonada
Eu vi baixeiro virar cama pelo chão
Bem no centro vi acesa uma fogueira
E um tripé segurando um caldeirão
Senti o cheiro da comida boiadeira
Bem na hora refogava o feijão
Fechei os olhos e senti aquele gosto
Que há muitos anos eu não sentia mais não
Ê tempo saudoso
Porque também eu já fui grande peão
As boiadas que toquei lá no passado
Tão na invernada dentro do meu coração
Passei a noite ali toda recordando
E da pousada eu não quis me aproximar
Porque sabia que meu velho coração
De emoção não iria suportar
Um tanto antes do dia romper a aurora
Pra não ser visto resolvi me retirar
Porque meu pai chefiava aquela tropa
Seu coração também não iria suportar
Ê tempo saudoso
Porque também eu já fui grande peão
As boiadas que toquei lá no passado
Tão na invernada dentro do meu coração