Mandamento de Fronteira

Luidhi Moro Muller

Fronteira grande faz a história dos dois lados
Um só legado recontado em dois idiomas
O mesmo timbre a maestria de campeiro
Firmando arreio em gineteadas e domas

O que separa o que é de cá do outro lado
É o fio bordado no lombo de algum lobuno
Um paysandu apresilhado só na ponta
Pra esses pilontras desenganados do mundo
Um paysandu apresilhado só na ponta
Pra esses pilontras desenganados do mundo

Garrão de potro nazarena bem ferrada
Rédea ponteada, estribo bueno correntino
O encerado do chinchão chega e se abraça
Firme a tarraxa o granito de algum malino
Deste pontão, onde o dialeto se mistura
Essência bugra de uma estirpe abagualada
Sangue cruzado e é certo que seja isso
Que um fronteiriço nunca refugue bolada
Sangue cruzado e é certo que seja isso
Que um fronteiriço jamais refugue bolada

Largar surrando na fronteira é um mandamento
Firmar no tento é a garantia adolada
Assim se faz cá no meu pago macanudo
Findando o mundo onde o minuano tem morada

Afroxa a corda, boa viagem vão simbora
Tinir de espora e a cantiga do cincerro
São duas pátrias dividindo um só destino
Meu chão sulino sagrado torrão fronteiro
São duas pátrias dividindo um só destino
Meu chão sulino sagrado torrão fronteiro

E que o acaso livre o couro do paysano
O desengano traga o manto da clemência
A virgem santa que protege campo a fora
Nossa senhora não tem pátria nem querência
Deste pontão, onde o dialeto se mistura
Essência bugra de uma estirpe abagualada
Sangue cruzado e é certo que seja isso
Que um fronteiriço nunca refugue bolada
Sangue cruzado e é certo que seja isso
Que um fronteiriço jamais refugue bolada

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