Levava a virtude de ouvir ternamente
Lamentos e causos,com toda a atenção
Era um confidente pelas estradeadas
Parceiro fiel, meu cavalo, um irmão
Um pingo dos bueno, de todas confiança
Pasteja em lembranças na várzea do fundo
Orelhas inquietas e olhos atentos
Findou sem lamento seu ciclo no mundo
Saudade do amigo que foi pra outro plano
O peso dos anos calou a basteira
Partiu em silêncio, tranqüilo e sereno
Deixando um aceno na cerda crineira
A dor de um parceiro, que parte no más
Num tranco de paz, se vai sem alarde
Partiu meu amigo, ficou a saudade
Minha outra metade, num resto de tarde
Nostálgica gota verteu em meu rosto
Pois vi meus agostos perderem o brilho
Das tantas volteadas quebrando geadas
Marcando a estrada por sobre o lombilho
E ao ver pendurados, os trates num gancho
No caibro do rancho, as rédeas trançadas
O freio e a cincha, o laço e o baixeiro
Que guarda o cheiro da manta suada
Foi num começo de outono
A idade marcava a carne cansada
Folhas mortas fizeram um leito macio
E o prenúncio de frio encurtou a jornada
Acomodou-se o taura sem estardalhaço
Num ritual campeiro que há muito eu não via
Cena comovente, olhos que se fecham
Como o sol, cansado, à terminar o dia
A morte! A certeza de um fim que sabemos
Mas se merecemos findar sem sofrer
A isto o saber não cabe ao humano
Pois cada paysano se faz merecer