4 Minutos

Apocalipse 16

Dinheiro, quem não quer dinheiro?
Sempre ouvi meu pai e minha mãe falar pra eu trabalhar
E juntar bastante dinheiro pra não sofrer
Falavam pra escolher meu futuro, escolher um caminho certo
Hum, acabei escolhendo errado

Como é que fui vacilar assim e jogar tudo pro alto?
Cada um pega uma trilha e eu fui pela trilha oposta da minha família
Tô aqui tremendo querendo acreditar naquela história de salvação
Mas como? Com um fuzil nas costas e uma automática na mão?

Droga, planejei tudo certo, horários, filmei gerentes, estudei agência
Decorei cara de caixa, vigia, tudo que era funcionário
Descolei um armamento pesado
4 minutos e já era, tudo vai tá acabado

Ninguém se mexe, deita todo mundo agora
Um movimento errado e bum, cabeça estoura
Mas pera aí, por que essa marra? É só pegar a grana e sair fora

Não, seu vacilão! Você tem que se impor
Meu Deus, não, por favor!
Cala boca, se não eu te encho de bala
Te mando pro saco, doutor, pro chão
Fica aí onde você sempre me deixou
Sem escolha, só a rua e a maconha

Não, mas pera aí, eu tinha escolha
Minha mãe sempre me matriculou na escola
Minha casa era pequena, mas minha infância, uh, foi da hora

Mas nada disso importa agora
É hora da tensão, vamos em frente
Eis aqui o terror em forma de gente
Maldito gerente, abre o cofre, se não te quebro os dente
Sai da frente, deita velha, pro chão

É um três oitão contra uma automática
Nem se coça guardinha, não atravessa na minha
Eu não vou pensar duas vezes pra deixar seus filhos órfãos
Vai ficar bonito você de herói deitado num caixão
Seus pivete na favela e sua mulher na fila da pensão

Hum, mas eu também tenho um pivete
Se eu não voltar pra casa na vida ele se perde
Mas eu vou voltar e vou tá montado na bagaça
Comprar tudo, comprar joia, carro, casa

Dinheiro vai me dar asas
Minha mulher nunca mais vai reclamar
Chega de comer ovo com miojo na hora do jantar
Se vier só as de cem eu vou me dar bem

Putz, chegou polícia pra tudo que é lado
Como é mesmo aquela oração que eu já devia ter decorado?
Ferrou, barulho de vidro quebrado
Vem se aproximando vários mascarados
Esse barulho eu conheço, é de revolver sendo engatilhado

Nem um último desejo antes dos tiros
Um abraço nos meus pais e um beijo na minha mulher e nos meus filhos
Tô indo sem nada disso
Pus o fuzil no chão, joguei a automática de lado
Vou sozinho

Pela minha mão sangue inocente não vai ser derramado
Eu conheço o esquema
É melhor se ajoelhar pra ser algemado
Que bom, o banco tá sendo evacuado
Um pacto com o demônio me tira daqui
Uma prece a Deus e eu vou poder dormir

Por que não pedir perdão dos meus pecados? Afinal, tô mesmo condenado
Caramba, quê que eu tô fazendo aqui? Se minha mulher souber disso vai ter um treco
Minha mãe então, não vai suportar outro derrame
Fui sem sorte, do cofre nem cheguei perto
Tem polícia descendo até do teto e eu sem passagem
Essa é a primeira e última vez que assaltei
Ah, que bom, pelo menos daquela oração agora eu me lembrei

Pai nosso que está no céu, santificado seja o seu nome
Venha a nós o teu Reino, seja feita sua vontade
Assim na terra como no céu
O pão nosso de cada dia nos dai hoje

Perdoai as nossas dívidas
Assim como perdoamos nossos devedores
Livra-nos do mal e não nos deixai cair em tentação
Porque teu é o reino, o poder e a glória para sempre, amém...

Como é que tá a situação dentro da agência aí, sargento?
A situação controlada, o meliante ofereceu resistência
Foi almejado com alguns tiros e veio a óbito aqui, é, aqui no local, aqui
Pô, irmão, será que vale a pena memo viver essa vida aí?

Cê quer dinheiro? Bum, aí tá seu dinheiro
Cê quer as joias? Bum, aí estão suas joias
Cê quer a fama? Bum, aí está sua fama
Cê quer a grana? Bum, aí está sua grana

Cê quer dinheiro? Bum, aí está seu dinheiro
Cê quer as joias? Bum, aí estão suas joias
Cê quer a fama? Bum, aí está sua fama
Cê quer a grana?

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